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13.10.2020 - PORTO VELHO 11.jpg

Thiago Honório

Memorando, 2020. Outdoor com fotografia de detalhe do manuscrito original de Mário de Andrade (1893-1945), de 1927, para a capa do livro “O Turista Aprendiz”, reproduzido nas edições de 1976 e 2015; “Memorando-Circular n.º 4/2020/SEDUC-DGE” endereçado às Coordenadorias Regionais da Educação em 6 de fevereiro de 2020 pela Secretaria de Educação de Rondônia.  Foto: Edouard Fraipont. 300 x 900 cm. Rua Ametista, 266 – Porto Velho – Rondônia. Billboard with a photo of the original manuscript by Mário de Andrade (1893-1945), from 1927, for the cover of the book “O Turista Aprendiz”, reproduced in 1976 and 2015 editions; “Circular Memorandum No. 4/2020 / SEDUC-DGE” addressed to the Regional Education Coordinators on February 6, 2020 by the Rondônia Department of Education. Photo: Edouard Fraipont

Fotografia: Natali Araújo.

“Sobre MemorandoO trabalho Memorando proposto para a primeira edição do M•A•P•A – No calor da hora, busca discutir poética e politicamente as noções de acesso e tentativa de interdição – censura – à leitura. 

Acesso |

Quando recebi o convite e o desafio para produzir uma obra que iria lidar com a dimensão da publicização e da circulação numa via expressa da cidade de Porto Velho, de imediato me veio à mente: o que conheço de Porto Velho? O que realmente sei de Porto Velho para além de sua localização no mapa, para além da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré? Como produzir algo ético e poético, a um só tempo, respeitoso e crítico, para um lugar que jamais fui, ao menos fisicamente? Fisicamente porque, sim, Porto Velho já foi acessada de outros modos. E a experiência mais marcante que tive com Porto Velho foi via leitura – o livro – através do viajante “sempre machucado”, ou ainda, em seus termos, o “antiviajante”, Mário de Andrade (1893-1945). Logo, nesse caso, o breve acesso que tive a Porto Velho foi via páginas de “O Turista Aprendiz” e fotografias feitas por Mário de Andrade com sua “codaque” presentes nele. 

“Interdito” |

Foi retomando as marcações que fiz nas duas edições do livro O Turista Aprendiz” que tenho em minha biblioteca, e pesquisando informações na internet acerca da relação de Mário de Andrade com Porto Velho, que me deparei com notícias recentes, no calor da hora, de 2020, relacionadas a Mário de Andrade e Rondônia, a partir do “Memorando-Circular n.º 4/2020/SEDUC-DGE”. De acordo com as notícias que li, esse memorando foi endereçado às Coordenadorias Regionais da Educação pela Secretaria de Educação de Rondônia em 6 de fevereiro de 2020. Nesse documento, a Secretaria de Educação de RO manda recolher das escolas “Macunaíma”, de Mário de Andrade e mais 42 livros (como “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis e “Os sertões”, de Euclides da Cunha, dentre outros). “O memorando 4/2020, assinado pelo secretário de Educação, Suamy Vivecananda Lacerda de Abreu, foi endereçado às coordenadorias regionais de educação de Rondônia. O argumento, no documento, era que os livros apresentavam ‘conteúdos inadequados às crianças e adolescentes’”. Segundo uma das reportagens consultadas “o secretário confirmou a existência do documento – revelou que se trata de um ‘rascunho’ feito por ‘técnicos’ que não chegou a ser expedido”. 

Como aventar a possibilidade de recolhimento ou censura, em 2020, de clássicos da literatura escritos no século passado, há quase cem anos? Como não questionar essa tentativa de interdição da obra de Mário de Andrade e dos demais autores?  * * *

Memorando, proposto para o outdoor e para o lambe, busca articular as noções de acesso a um lugar pela leitura, pelo livro, e a tentativa de recolhimento nas escolas públicas de livros clássicos da literatura, por parte da Secretaria Estadual de Rondônia, em fevereiro de 2020. 

Memorando toma o lugar de superexposição do outdoor para divulgar e estimular a leitura a partir do livro, dos lugares e condições postos pelo “turista aprendiz” Mário de Andrade, num processo de aprendizado e busca constantes.”

- Thiago Honório

 

Thiago Honório (Carmo do Parnaíba - MG, 1979) desenvolve uma prática de matriz interdisciplinar que reúne temporalidades distintas a partir de experiências entre as esferas íntima e pública, o ordinário e o extraordinário. A partir dos procedimentos de coleção, deslocamento e montagens de objetos, seus trabalhos transitam pela estética vernacular e moderna.  É autor dos livros DULCINÉIA (em colaboração com o coletivo Dulcinéia Catadora); Augusta (Ikrek, 2017) e {[( )]} (Ikrek, 2016). Possui obras nos acervos do Itaú Cultural de São Paulo, MASP SP, MAR Rio, Museu de Arte Brasileira – MAB Faap, MAC Niterói, Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo – MAC USP, e na Pinacoteca do Estado de São Paulo. Dentre suas residências artísticas, as mais recentes foram no Gulbenkian/AiR 351 Grant, Lisboa, Portugal (2020), CAMPO AIR, Pueblo Garzón, Maldonado, Uruguai (2019), Director’s Circle, International Studio & Curatorial Program, Nova York, EUA (2019). É Doutor em Artes Visuais e Mestre em Teoria e História da arte pela Universidade de São Paulo.

“On Memorandum: The piece Memorandum proposed for the first edition of M • A • P • A - In the heat of the moment, seeks to discuss poetically and politically the notions of access and attempted interdiction - censorship - to literature.

Access |

When I received the invitation and the challenge to produce a work that would deal with the dimension of publicity and circulation on an expressway in the city of Porto Velho, it immediately came to mind: what do I know about Porto Velho? What do I really know about Porto Velho besides its location on the map, besides the Madeira-Mamoré Railway? How to produce something ethical and poetic, at the same time, respectful and critical, for a place that I have never been, at least physically? Physically because, yes, Porto Velho has already been accessed in other ways. And the most remarkable experience I had with Porto Velho was through reading - the book - through the “always injured” traveller, or, in his terms, the “anti-traveller”, by  Mário de Andrade (1893-1945). So, in this case, the brief access I had to Porto Velho was via pages of “O Turista Aprendiz” and photographs taken by Mário de Andrade with his camera.

 

“Interdict” |

It was editing the notes I made in two editions of “Turista Aprendiz ”, that I have in my library, and researching information online about Mário de Andrade's relationship with Porto Velho, which I came across recent news, in the heat of the moment, in 2020, related to Mário de Andrade and Rondônia, from the “Circular Memorandum 4/2020 / SEDUC-DGE”. According to the news that I read, this memo was addressed to the Regional Education Coordinators by the Rondônia Department of Education on February 6, 2020. In this document, the RO Department of Education orders the removal  from school’s of the classic “Macunaíma” by Mário de Andrade and 42 other books (such as “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, by Machado de Assis and “Os sertões”, by Euclides da Cunha, among others). “Memorandum 4/2020, signed by the Secretary of Education, Suamy Vivecananda Lacerda de Abreu, was addressed to the regional education coordinators of Rondônia. The argument in the document was that the books contained ‘content inappropriate for children and adolescents’. According to one of the reports consulted, “the secretary confirmed the existence of the document - he revealed that it is a 'draft' made by ‘technicians that didn’t expedited”. How to winnow the possibility of recalling or censoring, in 2020, classic literature written in the last century, almost a hundred years ago? How can we not question this attempt to ban the work of Mário de Andrade and the other authors?

 

***

Memorandum, proposed for a billboard, seeks to articulate the notions of access to a place by reading, by the book, and the attempt by the State Secretariat of Rondônia to collect classic literature books in public schools in February 2020.

Memorandum takes the place of overexposure of the billboard to disseminate and encourage reading from the book, the places and conditions put by the “O Turista Aprendiz” by Mário de Andrade, in a process of constant learning and searching. ”

- Thiago Honório

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